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Resenhas

Redemoinho em dia quente, de Jarid Arraes

Redemoinho em dia quente
Livro Redemoinho em dia quente, de Jarid Arraes

Escritora conhecida por seus cordéis, Jarid Arraes estreia no gênero dos contos em Redemoinho em dia quente. Focando nas mulheres da região do Cariri, no Ceará, os contos de Jarid desafiam classificações e misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres. Uma senhora católica encontra uma sacola com pílulas suspeitas e decide experimentar um barato que a leva até o padre Cícero, uma lavadeira tenta entender os desejos da filha, uma mototáxi tenta começar um novo trabalho e enfrenta os desafios que seu gênero representa — Jarid Arraes narra a vida de mulheres com exatidão, potência e uma voz única na literatura brasileira contemporânea.

Redemoinho em dia quente é o meu tipo de livro. Eu já cansei de falar aqui e também no canal o quanto amo livros que falam sobre histórias de pessoas. E se tem um tipo de livro que mais me agrada e mais se encaixa nesse quesito para mim são os livros de contos. E exatamente esse o livro que a Jarid Arraes lançou esse ano.

Eu estou numa pegada de ler mulheres esse ano. Não só ler mulheres, mas ler mulheres brasileiras. Mulheres que escrevem sobre nossa história, mas não no sentido histórico. Eu falei que a ideia era conhecer autoras que escrevem sobre nossa terra, nossa gente, nossos problemas. E gente como tem encontrado coisas maravilhosas e boas de ler.

Arraes em Redemoinho em dia quente quer mostrar exatamente isso: histórias de mulheres. Mulheres que representam nossa gente, nossas histórias. E principalmente ela quer representar as mulheres do Cariri, a região de origem da autora e onde ela conhece bem. Eu não havia lido ainda nada dela, apesar de ter algumas obras da Jarid na biblioteca em que trabalho.

[…] naqueles tempos acreditávamos que cachorros aguentavam qualquer coisa. Aguentava perfurações, aguentavam trinta e oito, quarenta graus, aguentavam chuva e chão de terra que virava lama. Aguentavam a solidão diária de um quintal onde as pessoas só apareciam para lidar com a sujeira e arrancar os panos limpos aos gritos de “a roupa no varal “.

Cachorro de quintal, pg. 45-46.

A leitura de Redemoinho em dia quente

Apesar da minha leitura ter sido um pouco arrastada, principalmente se tratando de um livro de contos. Fui degustando cada um deles aos poucos. É até engraçado porque comentei com uma pessoa no Instagram que estava lendo a autora e o quanto a sua escrita era envolvente e me prendia a atenção de uma forma que eu não sabia muito bem explicar.

Os contos são bem curtinhos e mostram o dia a dia das mulheres nordestinas principalmente as moradoras da região do Cariri. Alguns contos beiram o surreal e até parece um pouco meio fantasioso, mas acho que é isso que dá o tom, o envolvimento do leitor com a escrita da leitora.

Redemoinho em dia quente, de Jarid Arraes
Livro Redemoinho em dia quente, de Jarid Arraes

Religião é tema rotineiro na vida do Cariri. Santos milagreiros, rezas, orações, igreja e Padre Cícero são elementos da fé do povo nordestino e estão presentes em muitos contos.

Rezar era bom, acalmava os ânimos, os pensamentos. Repetindo sem parar, a cabeça ficava vazia. Muitas vezes começava a rezar pensando em seus problemas, rogando por saúde ou por emprego, mas dentro de vinte minutos já não sabia qual era o objetivo daquilo. As palavras lhe arrebatavam. A chama da vela se tornava hipnótica. Lembrava de Deus fazendo cair fogo, lembrava da imaginação mostrando casas sendo destruídas e animais morrendo. E nesse transe santificado aguentava uma hora ou duas.

Santa com a base marcada,

Gostei de alguns contos mais do que outros. Sacola já mostra logo de cara o tom que será visto ao longo de toda leitura. Moto de mulher é divertido e traz tantas analogias para a vida que nem sei explicar; Cachorro de Quintal me fez repensar em todos os cachorros de quintal que já tive na vida; quem nunca conheceu uma mulher como a retratada em Viração de tempo?; Ou ainda a história que a gente não acha que acontece, mas é tão comum como o conto Olhos de cacimba que fecha o livro esplendorosamente.

Redemoinho em dia quente é um daqueles livros que deixam um gostinho de quero mais. Quero mais livros de contos da Arraes, mas por enquanto não tem novos lançamentos em vista. Com certeza, vou atrás de outras coisas da autora, já que estou vivendo um sentimento de orfandade de seus textos.

Mas agora eu quero saber de vocês. Tem lido autoras brasileiras ultimamente? Já conheciam Jarid Arraes? Gosta de livros com várias histórias curtinhas ou um romance mais longo com um enredo mais complexo? Quero saber um pouco mais das leituras e preferências de vocês aí embaixo nos comentários. Vamos conversar!

Redemoinho em dia quente
Autor
: Jarid Arraes | EditoraCompanhia das Letras
Páginas: 128 | ISBN: 9788556520890
Skoob | Goodreads
Para ler: https://amzn.to/2Vnlity

Mil beijos e até mais

Sobre o autor

Karin Paredes, 37 anos, baixinha, tagarela, adora livros e bibliotecas. Bibliotecária, casada com o Eduardo. Carioca vivendo sonhos em São Paulo. No Prateleira de Cima, fala sobre livros, leituras, literatura e biblioteconomia.

2 Comentários

  • Michele
    21 de maio de 2020 at 10:04

    Adorei a resenha e compartilho da opinião!

    Responder

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